sexta-feira, 18 de julho de 2008

Um Dia No Terreiro...


Um Dia Num Terreiro de Umbanda
Era dia de gira. O terreiro já estava todo limpo e preparado.
Os médiuns responsáveis pela limpeza daquele dia conversavamalegremente.
A dirigente e as mães pequenas já haviam feito todas as firmezas epodiam agora se juntar aos demais médiuns para um entrosamento maior.
O ambiente era tranqüilo e feliz.
Duas horas antes do início efetivo da sessão começaram a chegaros demais médiuns pertencentes a Casa.
Uns mais efusivos que outros como ocorre em todo grupo, todos secumprimentam alegremente.
Faltando uma hora para o início dos trabalhos é iniciada apalestra destinada a assistência e médiuns.
Com a palestra já quase no fim, eis que chega Dora, médium depouco mais de três meses na Casa.
Entra quieta e apressada, cumprimenta os irmãos de corrente com um"Oi" geral, um sorriso amarelo e vai direto para o vestiáriotrocar de roupa. Alguns médiuns se entreolham sem saber o porquedaquela irmã nunca se entrosar com eles.
Chega sempre em cima da hora da sessão, nunca se oferece para ajudar na faxina do terreiro e nem participa das obras assistenciais. Mesmo quando é sessão de desenvolvimento, entra muda e sai calada.
Essa atitude dela vem já causando algum desconforto entre algunsmédiuns, que resolvem, com a "melhor das boas intenções"perguntar a Mãe no Santo, faltando menos de 15 minutos para oinício da sessão, se ela não sabe o porque desse"descaso" para com os irmãos e para com a própria Casa.
A Mãe no Santo responde:
- Deixem a Dora em paz... ela tem compromissos previamente assumidos que a impedem de estar mais tempo junto de nós. Isso não significa que ela não gosta da Casa ou de nós. Por que ao invés de ficarem especulando não tentam colocá-la mais a vontade em nossa Casa?
Mas Rodrigo é curioso... e dispara:
- Mas Mãe, nem quando ela chega aqui ela fala com a gente direito...Entra muda e sai calada. Assim fica difícil fazer amizade com ela.
- Ela é tímida. Não lhe passou pela cabeça que a sua formade aproximação pode assustá-la ou afastá-la? Menos julgamento,meu filho e mais amor...
Rodrigo não gostou da resposta da Mãe, mas silenciou pois o olhardela lhe disse que o assunto estava encerrado, até porque a sessãojá ia começar.
- Vão para dentro do terreiro... diz a Mãe. Preciso me preparar.
Rodrigo vai para dentro do terreiro determinado a descobrir os "taiscompromissos" e se Dora era realmente tímida ou antipática.Afinal, ele trabalhava tanto, fazia tanto pela Casa limpava, faziafaxina, chegava cedo no terreiro, participava das aulas, palestras,sessões de desenvolvimento... e tinha o mesmo tratamento que Dora?Recebia da Mãe o mesmo sorriso, a mesma atenção... Não achavajusto isso. Ia dar um jeito de mostrar para a Mãe que ela estavasendo condescendente demais com aquela médium tão inexpressiva eindisciplinada.
Começa a sessão... os trabalhos transcorrem normalmente. Doraincorpora pela primeira vez o seu Caboclo... Saúda o Caboclo chefe ediz ao Caboclo da Dirigente:
- Esse Caboclo tá muito satisfeito com o que seu aparelho vem fazendo com minha filha. Ela precisa de muita orientação e amparo. Não permita que turvem os olhos e o coração do seu aparelho commaledicências...
O Caboclo chefe responde:
- Pode ficar tranqüilo. Meu aparelho já sabe.
Ao ver que Dora havia incorporado, Rodrigo sente aumentar ainda mais a sua inveja... e pensa "Agora que ela vai ter mais atençãomesmo... se sem incorporar nada já recebia atenção... agoraentão..." Rodrigo tenta em vão escutar o que os Caboclosestão dizendo. A sua ansiedade não permitiu que ele mesmoincorporasse seu enviado de Oxoce. Desequilibrou-se e acabou ficando sem receber as irradiações maravilhosas de seu guia, que tentaexaustivamente chamá-lo a razão, dizendo a seu ouvido:
- Meu filho, reflita no real motivo que se empenha tanto em ajudar naCasa. É por humildade ou para "aparecer". A Mãe tem quezelar por todos igualmente e é óbvio que irá se preocupar comos que mais necessitam. Abranda o teu coração e sossega teupensamento para que possa fazer o que devia ser o teu primeiro objetivo aqui... praticar a caridade servindo de aparelho para mim e a tua Banda toda...
Mas nada... Rodrigo não lhe dava ouvidos. A corrente da Casa jáhavia anulado a ação dos espíritos trevosos que circundavam oterreiro, mas eles encontravam dificuldade em afastar alguns poisestavam encontrando ressonância de sentimentos em Rodrigo que estava com a "guarda aberta".
O Caboclo Chefe, Sr. Pena Branca, foi avisado pelos guardiões o queestava se passando. Ele olhou Rodrigo que de tão cego que estavanão percebeu o olhar do Caboclo. O sr. Pena Branca avançou emdireção a Rodrigo que cantava pontos sem prestar a menor atenção ao que estava acontecendo a sua volta, pois o seu olhar estava fixo sobre Dora incorporada. Quando deu por conta, Sr. Pena Branca estava na sua frente... e falou:
- Curumim! Presta atenção na gira e não em médium. Prestaatenção ao seu guia...
- Mas eu não estou sentindo a vibração dele... acho que não vemhoje...
- Ele está do seu lado! Sempre! Ele tem compromisso com você e coma Casa. Você é que está preocupado com coisa que não épara se preocupar e nem saber. Coisa que não deveria ser do seuinteresse. Cuida do teu e do que veio fazer aqui!
Ato contínuo eleva a mão sobre a testa de Rodrigo sem tocá-labuscando cortar o elo de ligação com os espíritos trevosos quedesta feita insistem em atuar no mental de Rodrigo.
Rodrigo fecha os olhos e balança suavemente para frente e paratrás... o Sr. Pena Branca dá o seu brado e o Caboclo Flecheiroincorpora em Rodrigo.
Os dois conversam. O Sr. Pena Branca pede que seja enérgico comRodrigo. Que o oriente a deixar os assuntos que não sejam de suaalçada fora de seus pensamentos. Que não seja intransigente com osirmãos, que controle a sua curiosidade e julgue menos. Que veja todosos irmãos iguais e que se conscientize do seu papel dentro doterreiro e dentro da Umbanda.
O Caboclo Flecheiro promete que irá continuar trabalhando mas queRodrigo tem o seu livre arbítrio e pede ajuda nessa tarefa. O Sr.Pena Branca promete interceder também.
Iniciam as consultas e o trabalho transcorre com tranqüilidade.
Ao término da sessão Dora é só sorrisos. Feliz por haverincorporado pela primeira vez o seu Caboclo, quase corre para perto da Mãe e a abraça agradecida.
- Mãe, obrigada! As suas palavras ontem me deram novo incentivo, nova vida. Renovaram o meu desejo de crescer, estudar, evoluir. Fiz tudo direitinho conforme a senhora orientou e hoje vi que não estoulouca... Cheguei aqui hoje ainda com um pouco de medo. Mas... Ele existe mesmo e a sensação é maravilhosa. Aqui é a minha Casa por que é a Casa Dele. Além do mais, hoje quando fui fazer a entrevista de emprego, me saí tão bem que já começo a trabalhar nasegunda-feira e terei mais tempo para me dedicar ao Centro e aos estudos da espiritualidade.
A Mãe sorri e responde:
- Viu minha filha? Todos nós passamos por isso, sentimos esse medo,essa insegurança... só que alguns esquecem que um dia foraminseguros e tiveram seus problemas também.
Nesse momento a Mãe lança um olhar significativo para Rodrigo queabaixa a cabeça envergonhado.
Dora acompanha o olhar da Mãe e vê Rodrigo. Dirige-se a elesorrindo e com os olhos cheios de lágrimas, diz:
- Rodrigo, você me ajuda? Gostaria muito de ajudar na limpeza denosso terreiro e em todas as tarefas disponíveis, agora que arrumeioutro emprego e não trabalho mais em dia de sessão. Como possofazer? Falo com quem? Você sempre foi tão prestativo e atenciosocomigo... pode me ajudar?
Felizmente a excitação de Dora não permitiu que ela percebesse oquão desconcertado e envergonhado Rodrigo estava, pois ele ouvira naíntegra a conversa entre o seu Caboclo e Sr. Pena Branca e agoraouvia aquilo...
A Mãe no Santo sorri. Mais uma lição havia sido aprendida poraquele filho tão querido. Ela volta-se para o Congá e sorri aoolhar a imagem de seu Caboclo e em pensamento diz: "Obrigada Pai!Obrigada Umbanda pela oportunidade do aprendizado constante!"
Mensagem Inspirada por Vovó Maria Conga da Bahia
Médium Mãe Iassan
SE7E

Nenhum comentário: